As Leituras Portuguesas de Robinson Crusoe
Autor: José Gardeazabal
Formato: 13×20 (cm)
Número de Páginas: 96 págs.
ISBN: 9789895346752
1ª Edição, Março de 2025
O Robinson Crusoe de José Gardeazabal espreita por cima dos ombros do Robinson de Daniel Defoe, e com ele põe a salvo dos escolhos do seu naufrágio “alguns livros escritos em português” e, acompanhado desse oportuno Sermão de Santo António aos Peixes e outros textos de Padre António Vieira, espanta-se e reflecte sobre a solidão e a ilha, a chamada civilização e o outro, a memória da família e a intuição do mal.
José Gardeazabal é um escritor português cuja obra atravessa múltiplos géneros literários, incluindo teatro, poesia, romance, prosa curta e literatura infantil. A sua escrita apodera-se da filosofia, da política e da poesia, combinando-as com um método que mescla profundidade e ironia para encarar de frente a contemporaneidade. Explora territórios como a família e o eu, o amor e a sexualidade, as migrações e a diferença, a condição do mundo, a história e as penas do Ocidente. Publicou três peças de teatro, Televisão, Regras Para Fotografar Animais e Cinema Mudo, reunidas no volume Trilogia do Olhar. Foi distinguido com o Prémio de Poesia INCM/Vasco Graça Moura pela obra História do Século Vinte, e Penélope Está de Partida recebeu o Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores para Melhor Livro de Poesia de 2022. Publicou sete romances, entre os quais A Melhor Máquina Viva, A Mãe e o Crocodilo e Origami, e foi finalista de prémios como o Oceanos, Correntes d’Escritas, Fernando Namora e SPA para Melhor Romance.
A peça de teatro As Leituras Portuguesas de Robinson Crusoe marca a sua estreia nas edições fauve&rouge.
ROBINSON:
(Para o público, enquanto Sexta-feira deambula pela sala, lendo baixinho, para si mesmo.)
confiei nele imediatamente
perguntam-me porquê?
tinha todas as qualidades de um ser humano
carne, sangue, pele, pelo, cabelo e unhas
lembro-me bem: carne e unhas
tremendamente humano, demasiado humano
esta foi a minha primeira impressão
SEXTA-FEIRA:
e sangue
ROBINSON:
sangue?
SEXTA-FEIRA:
carne,
(Ênfase.)
sangue, cabelo e unhas
ROBINSON:
um humano completo, estava lá tudo
era a ocasião indicada para ganhar um novo companheiro, um amigo
talvez até um criado
fiz-lhe saber que o nome dele era o do dia da semana em que o encontrei
sexta-feira, o homem sexta-feira
ensinei-o a dizer senhor, que seria a partir daí o meu nome
e a dizer criado, que seria a partir daí o seu nome
porque seria ele o criado
e eu o senhor
assim dividimos o trabalho